Ajudar a que as empresas analisem as suas atividades e façam uma transformação, quando necessário, para se integrarem numa economia circular é o grande objetivo do projeto Be Smart – Be Circular, promovido pela Associação Smart Waste Portugal (ASWP).
A taxa de circularidade média na União Europeia era de 12,8% em 2020, enquanto em Portugal, no mesmo ano, a média era de 2,2% (dados Eurostat). Com base neste contexto foram identificadas lacunas na capacidade das PME nacionais em conceber e implementar medidas para a sua transição circular.
O projeto Be Smart – Be Circular pretende dotar as empresas de conhecimento, informação e ferramentas que contribuam para a transformação empresarial, numa ótica de transição para a Economia Circular.
Com base em atividades e sistemas que permitem criar um sistema de troca de resíduos e matérias-primas, o projeto tem igualmente como objetivo a maximização do aproveitamento económico dos resíduos, diminuindo a necessidade de extração de recursos e os seus impactos ambientais negativos.
Entre as ferramentas criadas pela associação está o Guia de Boas Práticas Circulares para os Serviços; o Estudo para avaliação do potencial da desclassificação de resíduos e a Plataforma digital de subprodutos myWaste.
Segundo Aires Pereira, Presidente da Direção da Associação Smart Waste Portugal, “Temos de ter a consciência de que o desperdício de uns pode perfeitamente ser a matéria prima de outros e é este caminho da circularidade que Portugal e as suas PME terão de percorrer, com a noção de que o futuro passa já pelo presente. Enquanto Associação queremos, através de projetos como o Be Smart – Be Circular, que a Economia Circular seja aplicada em todos os setores, incluindo também o setor dos serviços, muitas vezes esquecido, pois só assim aumentaremos a nossa taxa de circularidade e nos aproximaremos da média europeia”.
No que diz respeito ao Guia de Boas Práticas Circulares para os Serviços este tem como intuito sensibilizar, dinamizar e capacitar as empresas nacionais, dotando-as de conhecimento, informação e ferramentas que contribuam para a transformação empresarial, numa ótica de transição para a Economia Circular, com enfoque no setor dos serviços e nas PME.
Assim, são sistematizadas as boas práticas circulares em contexto empresarial, com recomendações que podem ser aplicadas de forma transversal em múltiplas vertentes do setor dos serviços, o que faz deste guia uma ferramenta prática para a gestão empresarial.
O guia destina-se a explicar como incrementar a competitividade e sustentabilidade das empresas nacionais face à concorrência internacional, através de práticas que potenciem: a redução de custos; uma menor pressão sobre os recursos naturais e energéticos, a aquisição de bens e serviços locais em detrimento de importações; surgimento de novas PME dedicadas a soluções circulares e a uma melhor e mais sustentável relação com os diversos stakeholders.
Quanto ao Estudo para avaliação do potencial da desclassificação de resíduos, o objetivo é promover uma melhor compreensão do contexto nacional e europeu ao nível dos mecanismos de desclassificação de resíduos e identificar as prioridades nacionais no que respeita a atividades económicas com maior potencial de desclassificação de resíduos. O estudo agrega informação no que respeita a regulamentação, legislação, procedimentos e boas práticas no setor, identificando três setores prioritários para a desclassificação de resíduos (construção, fabricação de produtos químicos e de fibras sintéticas e artificiais e a fabricação de têxteis, indústria do vestuário, do couro e dos produtos de couro).
A terceira iniciativa, a Plataforma digital de subprodutos myWaste, visa ser uma ferramenta que permita dar resposta e promover a aceleração das taxas de reciclagem dos diferentes fluxos de materiais, uma vez que só assim é possível atingir a circularidade. A myWaste consiste numa rede B2B de partilha de uma bolsa nacional de resíduos/subprodutos/FER (Fim do Estatuto de Resíduos) passíveis de serem valorizados, numa lógica de Marketplace.
No âmbito do projeto, foram ainda realizados um conjunto de workshops de Eco Design Circular, tendo a primeira sessão decorrido em Évora no dia 21 de outubro de 2021, em parceria com a CCDR Alentejo e o LNEG e a segunda sessão decorrido a 04 de novembro de 2021, em Leiria, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria. As sessões contaram com a participação de profissionais ligados ao design de produto, gabinetes de design, arquitetura e engenharia, entre outros.
É necessário aumentar a taxa de circularidade
Em Portugal, o setor dos serviços representava, em 2019, 75% do valor acrescentado bruto. Segundo o estudo de 2020 da Capgemini[1] na área de bens de consumo e retalho, a sustentabilidade é um motivo de preferência para 79% dos consumidores, e 66% escolhem comprar produtos ou serviços com base em questões de respeito pelo ambiente.
Oos empregos associados à Economia Circular cresceram 5% na UE entre 2012 e 2018 (atingindo cerca de 4M), estimando-se que a aplicação da Economia Circular (EC) tenha um potencial de contribuição para o aumento do produto interno bruto (PIB) da UE em 0,5% em 2030, criando cerca de 700 mil postos de trabalho (CEAP, 2020), e as estimativas europeias para Portugal apontavam para a existência de 57 000 postos de trabalho diretos em 2012 relacionados com atividades de EC, bem como a criação de 36 000 empregos diretos até 2030 (PAEC, 2017).
[1] «Consumer Products and Retail: How sustainability is fundamentally changing consumer preferences»
Com UP Partner